26 junho, 2009

Coisas Bonitas da Vida

Na minha última postagem eu estava muito triste... Com a sensação terrível de que nada mais me restava, que minha vida toda era uma grande porcaria. Sou humana, às vezes me sinto mal, às vezes fico de mau-humor... nada de a-normal.

No entanto, depois de passar por um longo período difícil esse ano, por muitos motivos diferentes: pela minha alergia a ácaros, pela dificuldade de lidar com um inverno rigoroso, pela falta de sol, pela saudade da minha vó, etc. No fundo acho que tive razoes mais do que o suficiente para me sentir o último ser desse universo.

Contudo, depois de anos de terapia bem feita, a gente aprende a reconhecer as crises, a detectar as razoes e superá-las. Acho isso sempre possível se um ser conhece a si mesmo, ainda que isso pareca frase de livro de auto-ajuda. Conhecer-se não deveria ser tido como uma coisa clichê, crise de madame de classe média com um pudlo no seu colo...

É importante conhecer conscientemente seus ideais e importante reconhecer as mudanças que acontecem todos os dias dentro d'a gente. Isso porque a essência do ser humano não é constante e acho que não existe nada mais plástico do que a nossa natureza. Mas é preciso estar alerta a si mesmo para conseguir trabalhar as emoções que nos bombardeiam todos os dias; além disso é preciso estar alerta para trabalhar essas emoções de forma profunda e não simplesmente viver uma vida superficial.

A verdade é que eu aceitei muitas coisas na minha vida e fui as aceitando assim como elas chegaram e não estava lá por mim. Por isso, chegou um momento eu que eu não reconhecia nada daquilo como meu e não me reconhecia mais no meio de tudo aquilo. Falo isso para fazer uma conexão com o momento que vivi no primeiro parágrafo, eu estava triste e me reconheci triste e pude trabalhar minhas tristezas e pude sentir o porque elas estavam ali, exatamente onde elas estavam e superá-las... Mas houve um momento em que eu não pude ver as minhas tristezas, não soube reconhecer as frustacoes e precisa recomeçar.

Foi nesse momento, quando uma casa "caiu" na minha cabeça, que eu percebi que eu não estava lá por mim, só que eu ainda não sabia como desatar todos os nós, como me resgatar da confusão que estava sentindo.

Eu estava morando em uma casinha adorável com duas cachorrinhas fofíssimas, se não fossem todos os problemas que vinham com elas. Tudo custava muito tempo, muita dedicação, já que as cachorras são dois "serezinhos" que precisam de cuidado, atenção e afeto e a casa precisava de muito cuidado por apresentar problemas estruturais, com infiltração de água, falta de luminosidade, mofo, etc. Tudo custava também muito dinheiro e eu precisava trabalhar muito, muito mesmo, se não quisesse abrir mão de toda a minha vida social. Cheguei a viver um período no qual não podia dormir mais do que quatro horas por noite.

Além de tudo isso eu estava vivendo uma ruptura com um outro ciclo vicioso da minha vida. A constante falta de auto-estima que me levava a aceitar relacionamentos estranhamente danosos. Foi uma espécie de repetição do meu primeiro longo relacionamento, com um garoto que me fez muito mal e no qual eu aprendi muito pouco... eu precisava repetir a dose, precisava viver tudo aquilo e refletir, trabalhar os sentimentos e superar. Foi violento, não fisicamente, emocionalmente. No final do relacionamento eu chegava a trocar os nomes dos dois e nunca sabia de qual dos dois eu estava falando; na verdade eles foram as mesmas pessoas para mim.

Ainda assim, muitos dos relacionamentos que seguiram esse último foram muito estranhos, confusos e... behhhh! horrorosos. Com a única diferença de que eu dei a volta por cima e consegui por um fim nesses relacionamentos e não sofri ( e fiz sofrer) por dois, três anos. Mas eu havia me causado muitos danos e me sentia totalmente sem a capacidade de me apaixonar, de me entregar. Eu havia agido tao estupidamente, eu havia prestado tao pouca atenção aos meus limites que esgotei definitivamente a minha capacidade de me entregar.

Essa sensação de frustração e infelicidade haviam se estendido a quase todo o resto da minha vida: eu estava cansada!

Mas eu estava com a volta por cima preparada, uma nova cartada escondida na manga. Eu havia decidido deixar tudo e passar um ano na Alemanha, para desfazer outros nós da minha vida, para dar sentido ao curso que eu havia quase terminado na Universidade, para estar longe, longe de tudo e poder entrar em contato comigo mesma.

No meio dessa decisão eu conheci o Norman, mas eu estava esgotada e duvidava que algo de extraordinário pudesse acontecer de um encontro tao banal. Mas lá no fundo eu sabia que melhores momentos estavam por vir, talvez por que eu desejava esses momentos e ainda que no meu passo, no meu ritmo lento, eu estava na direção deles com uma fúria invencível e certamente irreversível.

Eu ainda sofri muito no meu primeiro ano como au-pair. E nenhuma das mudanças que aconteceram foram rápidas, estou escrevendo essa postagem mais ou menos três anos após tudo isso que contei. O Norman foi uma luz, um apoio muito importante de uma forma totalmente sutil e intensa. Eu nunca estive sozinha antes, seria injusto dizer isso, tive sempre tantos amigos me apoiando, tantas forcas por todos os lados. Mas ele não era só um amigo, ele também era o namorado e de uma forma toda natural, o namorado que eu sempre havia buscado.

Foi então que eu decidi ficar e dar um rumo totalmente diferente para minha vida. Com medo de deixar tudo para trás e ser irresponsável... Com medo de falhar, com medo, com medo e tendo que agir de forma responsável e... bem, muito devagar percebendo que isso não era irresponsável e muito devagar sentindo que nada tinha que "dar certo". Que a vida é cheia de tentativas e essa era uma delas, a minha tentativa, perto de alguém que me fazia bem, perto de mim mesma também.

O resumo de tudo é que a minha vida melhorou, mudou para melhor de uma forma tao abrupta, que eu demorei mais um ano e meio para me acostumar com as coisas boas que chegaram. Eu queria tanto me sentir leve, mas quando tudo isso chegou, eu não queria deixar os pesos e tive que ir me livrando deles um a um.

Eu ainda estou me livrando deles! Mas como é bom poder ser feliz!

Um comentário:

  1. Só a minha Camilinha,
    sofrendo tanto pra ser feliz! rs...
    Dizem que as orquídeas dão as mais belas flores sob situações de stress... Eu sei que a foto do blog é um girassol, mas quem sabe vc não é uma orquídea disfarçada, e tava se estressando um bocado de vez em quando só pra dar uma belíssima e feliz flor-de-agora?
    Desejo então mais felicidade pra vocês dois.
    E uns probleminhas de vez em quando, sim, se não a gente fica muito mole! rs...

    beijãozão.
    Luana.

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