24 maio, 2010

Ô sol, saudade!

O sol estalado na janela. Chegaram os dias de verão na Alemanha. O estado em que eu moro é quase sempre frio. Não faz tanto frio como em outras partes do país, mas também não tem um verão aproveitável. London flair, grey, rainy, kind of cold.

Mas hoje a maneira como o sol bateu na janela me lembrou a maneira como a luz do sol é refletida pelo prédio na Rua Pinheiros que fica bem em frente a faixa de pedestres que eu atravessava para ir ao Sesc.

O calor abafado do quarto me lembrou da sensação que se tem em São Paulo quando o sol aparece forte... O bafo do asfalto, o abafo da cidade.

Tudo isso me lembrou da saudade que eu aprendi a sufocar, a abafar... Atravessar a rua para ir na padaria, comprar as broinhas de milho que eu e o Fa amamos. Atravessar a rua para ir ao Sesc encontrar o Everton e fazer academia. Atravessar a rua para ir ao cinema com a Rose. Atravessar a rua para jantar na praça de alimentação do Center 3 com o Tiago.

ô Sol, quanta saudade que você traz!

23 maio, 2010

amigos gurus e budismo

Essa semana recebi novamente um email de uma pessoas que foi uma grande amiga, companheira de trajetória por um tempo na minha vida. Havia prometido a ela não ler mais as suas mensagens, mas por um lapso da distração, ao ver o nome, automaticamente abri o email e lá estava mais agressão.

Fazendo um grande parenteses, fiquei pensando em duas coisas a semana toda. Duas conversas com dois amigos, com os quais já enfrentei conflitos e também com os quais superei conflitos.

A primeira delas foi com o meu sábio amigo Everton. Ao recomeçar a USP no semestre passado, ou melhor, ao começar pela primeira vez na minha vida um semestre com equilíbrio emocional e suporte financeiro, um grande ressentimento e uma enorme tristeza tomaram conta dos meus sentimentos. Fiquei surpresa de ver o quanto eu consigo produzir, de ver tudo o que eu sou capaz e, olhando para trás, ficava pensando como tudo teria sido, se eu tivesse tido essas coisas desde o começo. Como muitos fazem, talvez por influência do nosso amigo Freud, fui buscar as raízes, encontrar culpados e traumas. Não que tudo o que ele tenha dito seja inútil, mas conversando com o Everton reforcei uma filosofia, uma maneira de lidar com a vida, que apesar de achar muito, mas muito sábia, na maioria das vezes, deixo de aplicá-la a minha vida.

O contraponto do Everton às minhas amarguras foi justamente o fato de eu estar novamente olhando para trás e remoendo e gastando energia, tempo e paz na direção errada. E se eu passasse a ser responsável pelos meus atos, sujeito da minha própria vida e enxergasse que eu, agora, posso usar essa energia para produzir mais, para ser mais feliz, para renovar o ciclo. Existe a fase da análise, quando nos deparamos com os porquês, as razões da areia que fica enguiçando nossa engrenagem. E, a construção, a fase que segue, é conseguir construir algo de novo à partir desse (re)conhecimento.

A segunda conversa foi no delicioso encontro com uma outra amiga que considero muito sábia, a Luana. Em algum momento estavámos conversando sobre defeitos, coisas que eu gostaria de "melhorar" na minha personalidade, e a Luana me apresentou um conceito muito interessante (espero que consiga explicar, a coisa é complexa e acho que aqui ficara meio superficial): nos somos feitos de características negativas e positivas. Apesar das palavras negativa e positiva já carregarem um juízo de valor em si, é importante nos distanciarmos do julgamente e enxergarmos tais características como pilares na fundação da nossa personalidade que possuem o mesmo poder de sustentação e têm a mesma importância para a constituição da nossa personalidade. Os pilares que julgamos como negativos e que ficamos tentando derrubar, podem também ser de vital importância e estar sustentando uma porção de outras coisas no nosso complexo eu.

É claro que a primeira vista parece absurdo dizer que, se eu tennho tendências assassinas (exagerando é claro), tenho que liberar geral. Talvez uma das últimas aulas que assisti no curso de budismo seja esclarecedora. Você observa e reconhece em sua constituição tanto aquilo que chamamos de defeito, quanto aquilo que chamamos de qualidade. Ambas as coisas são fundamentalmente energia. Raiva, tristeza, rancor também são. Quando você vai além do julgamento e entra em contato com o fundamento, você percebe que a raiva que te move para agredir uma pessoa contem em si uma quantidade enorme de energia, que você pode usar em outra direção, para atingir outros objetivos além de dar umas porradas no ser que te faz sentir assim.

Essas duas conversar são para mim muito significativas e complementares. Lidar com a nossa bagagem de vida e emocional é essencial para alcançar uma das coisas mais importantes na vida, pelo menos na minha opinião: serenidade.

E são essas duas conversas que me ajudam muito quando penso nos dois rompimentos do ano passado.